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Artigo: 2 de junho marca a epopeia garibaldina

Última foto tirada de Garibaldi, em vida. (Arquivo/CulturAnita/Divulgação)

*Adílcio Cadorin

A data desta quarta-feira, 2 de junho, reveste-se de grande importância para a Itália e também para os aficionados pela epopeia garibaldina, que é comemorada por centenas de instituições radicadas em dezenas de países. Trata-se do dia em que, há 139 anos passados, mais exatamente em 1882, falecia Giuseppe Garibaldi, o grande idealista das lutas contra os regimes despóticos, projetando-se inicialmente na América do Sul, onde lutou contra a Monarquia Brasileira em defesa da República Catarinense e da República Rio-grandense, além da República do Uruguai. Mas foram as lutas pela expulsão dos estrangeiros da Península Itálica e o surgimento da nação italiana que o consagrou como o conduttieri  da liberdade.

Garibaldi faleceu às 18h22, numa sexta-feira e ali mesmo foi sepultado, na ilha de Caprera, onde seus restos mortais repousam até hoje e  onde viveu seus últimos anos de vida. Sua autobiografia, conhecida como Memorie, foi escrita inicialmente em forma de versos divididos em capítulos que ele denominou de “cantos”, mas foi posteriormente internacionalizada pelo escritor Alexandre Dumas, que o entrevistou pessoalmente  e o acompanhou em diversos episódios históricos da unificação italiana. Suas memórias foram traduzidas e editadas em mais de cem diferentes países e línguas, e frequentemente ainda são reeditadas.

A morte de Anita. Quadro de F.Fabbi, cedido por Fratelli Alinari

Nasceu em 04 de julho de 1807, na cidade de Nice, hoje pertencente à França, mas na época pertencente ao Reino da Sardenha, depois incorporado à Itália. Devido a sua participação nas revoluções e conflitos ocorridos na América do Sul e na Europa, foi-lhe conferido  a alcunha de “Herói de Dois Mundos”. Inicialmente seu nome foi projetado pelo movimento da Jovem Itália, criada com o intuito de expulsar os invasores  e  estabelecer a unificação  italiana sob a tutela de uma república.

Além de idealista do movimento republicano e estrategista habilidoso dotado de grande coragem e audácia, dentre suas imortalizadas façanhas bélicas desponta-se a  travessia dos pequenos navios  Seival e Farroupilha, que por  cerca de 80 km de campos e banhados foram puxados por 100 juntas de bois, que tracionaram os barcos colocados sobre duas carretas com rodas de aproximadamente 4 metros de altura e retirados das águas do Rio Capivari, no extremo norte da Lagoa dos Patos e transportados por terra  até a atual cidade Tramandaí, onde foram novamente colocados nas água da sua lagoa, e dali navegando pelo Atlântico para com somente 40 homens tomar a cidade de Laguna no dia 22 de julho de 1839, onde foi proclamada a República Catarinense em 29 do mesmo mês e ano, república esta que teve duração efêmera, até o dia 15 de novembro quando foram derrotados na Batalha Naval de Laguna.

Retirada de Anita e Garibaldi, após serem derrotados em Laguna no dia 15 de novembro de 1839. Pintura de Willy Zumblick denominada “Fuga para o Sul”.

De fato, foi em Laguna que oportunizou seu feliz encontro com Anita, que a partir de então passaram a construir o maior romance épico durante um período bélico e que durou 10 anos, até hoje jamais igualado,  principalmente se considerarmos que este idílio lhes deu quatro filhos no mesmo espaço de tempo que lutavam e combatiam em defesa das quatro repúblicas que tentavam emergir dos sufocados regimes imperiais. Foi somente a  morte de Anita que os separou, ocorrida em 4 de agosto de 1849  na localidade de Mandriole, província de Ravenna, na Itália, quando se evadiam de Roma após terem recusado a oferta de anistia em troca do reconhecimento do domínio invasor do Império austríaco e do poder temporal papal.

Tamanha foi a saga do casal Garibaldi que após suas mortes, suas vidas  e obra foram imortalizadas em biografias, romances, filmes, teatros, óperas, monumentos e obras de arte. Logradouros, rodovias, cidades, bens públicos, empreendimentos privados e até bens de consumo receberam seus nomes, além dos registros documentais preservados por milhares de bibliotecas e centros de memórias históricas existentes em centenas de países.

A data de hoje, 2 de junho também reveste-se de grande significado histórico, já que foi há 89 anos, neste mesmo dia e mês que em 1932, Benito Mussolini, então Primeiro Ministro da Itália,  inaugurou no Monte Gianícolo, em Roma, um dos maiores monumentos italianos,  dedicado à Anita, a Mãe da Pátria Italiana, sendo ali, naquele momento, sepultados pela sétima vez os restos mortais da Heroína, cujo cortejo fúnebre  foi um dos mais concorridos da história italiana e havia partido de Genova, onde havia ocorrido seu sexto sepultamento.

Este monumento à nossa conterrânea, projetado pela genialidade do escultor Ruttelli levou cerca de três anos para ser edificado, tamanha sua dimensão e simbolismo. Sua base possui diversos metros de altura  e estão retratados em alto relevo, em seus quatro lados, esculturas representativas dos momentos mais significativos dos combates em que demonstrou  grande coragem. No alto, sobre a base,  Anita  é retratada sobre um cavalo, com um filho e as rédeas em uma mão e uma pistola na outra, reproduzindo um momento marcante de sua força e  vida, onde demonstrou que mesmo tendo por norte  o ideal republicano e fidelidade ao seu companheiro, demonstrou inigualável sentimento maternal para enfrentar os agressores que a sitiavam quando em estado puerperal, logrando escapar sem abandonar por um momento sequer seu filho recém-nascido.

Escrever sobre as datas mais significativas da história de ambos ou mesmo falar  dos ideais e do imenso elo afetivo que os unia demandaria muitas laudas, mas acredito que uma frase escrita pelo próprio Garibaldi, logo após esta derrota e retirada de Laguna, registradas em suas Memorie,  representa o valor e a importância que Anita representou para ele:

Eu seguia a cavalo para o Rio Grande, com a mulher dos meu coração ao lado. Cavalgava na vanguarda de uns poucos companheiros sobreviventes de muitas batalhas. Mas o que me importava não ter mais roupa do que a que cobria o meu corpo e servir uma pobre República que a ninguém podia pagar um soldo? Eu tinha um sabre e uma carabina que leva atravessada diante dos arreios. E tinha Anita, meu maior tesouro”.


ADÍLCIO CADORIN, advogado, historiador, ex-prefeito de Laguna e um dos fundadores da Fundação Anita Garibaldi, hoje CulturAnita. Entre suas obras, estão: Anita: Guerreira das Repúblicas e da LiberdadeTordesilhas: muito mais que um tratado Laguna, terra mater.

Inauguração do monumento à Anita em 2 de junho de 1932, no Monte Gianicolo, em Roma, com a presença de Benito Mussolini.

Informações adicionais para a imprensa:
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